Mães narcisistas jamais passam o bastão para a filha. Exigem atenção constante, obrigando-a a não se destacar para não a ofuscar. Abusam de sua posição, manipulando, humilhando e enfraquecendo a autoestima por meio de críticas, indiferença e desqualificação de sua identidade. Se preocupam mais com como sua filha é percebida pelos outros do que por como ela é ou deveria ser. Uma das soluções de cura emocional e resgate da identidade está em fazer um processo terapêutico especializado nessas importantes demandas.
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Silvia Malamud⠀
[Contém spoiler]
A série Maid (Netflix) conta sobre um dos piores e mais devastadores tipos de abusos, atualmente consagrado tanto pela psicologia como pela psiquiatria como uma violência silenciosa e de difícil detecção.
A protagonista Alex vem de um lar disfuncional, com uma mãe bipolar não diagnosticada e, portanto, não tratada, distante e autocentrada. Ao longo da série, mesmo quando bem intencionada, essa mãe não consegue se conectar com a filha. Em seus surtos de mania, imagina-se como uma grande artista, sem noção da realidade e em negação de seus relacionamentos abusivos. Também podemos observar em sua personalidade um tom histriônico.
Alex, por sua vez, não tem ideia de que tem uma família disfuncional e abusiva. Desenvolve um excesso de zelo, cuidados e empatia com essa mãe, aprendendo a não se posicionar, a não ter desejos próprios e vivendo em função de ser mãe da própria mãe em busca de um pouco de paz e segurança. Ser conivente era a única saída para terem um mínimo de conexão. Os abusos que sofreu na infância se tornaram um modelo de referência de como ser, a ponto de Alex repetir cenários abusivos em seu próprio relacionamento afetivo.
Quando pensamos em transgeracionalidade de traumas e recursos, percebemos a história se repetindo. Alex também foge do lugar de abuso com sua criança, tal como sua mãe, porém busca ajuda, terapia e faz de tudo para ficar lúcida e alcançar seu propósito. Até despertar de fato, Alex só sabia viver e se submeter ao sistema agressivo de onde veio. Sua identidade estava baseada nisso e sentia a possibilidade de ser acolhida por seu abusador, acreditando que ele seria bom.
Abusadores perversos geralmente se sentem bem cuidando de quem está doente. Não à toa, Sean ajudou Alex a resgatar a mãe de um grave surto de mania, quando esta, impotente, nada conseguia fazer. A personagem se encanta com o ex depois de tanto acolhimento, acreditando que tudo poderia dar certo, sem perceber que sucumbia mais uma vez ao mesmo drama.
Algumas pessoas acusam Alex de ser mimada e não ter aceitado a ajuda de Nate, mas ela não conseguiria - estava com traumas severos e muitos gatilhos emocionais. Não sabia receber coisas boas, estava familiarizada com a dor e com o auto sacrifício. Quando algo bom se manifestava, Alex desconfiava, sentia-se confusa e não merecedora. Viveu sob violência doméstica, sofreu, sentiu medo e teve de ficar adulta precocemente.
Vítima de tramas abusivas, não recebeu amor e se via obrigada a oferecer tudo o que tinha de afeto e cuidados para o outro. Quando não fazia isso ou quando o outro não achava ser suficiente, sentia-se culpada, com medo de não receber o mínimo do que o outro tinha a oferecer, um imaginário de "lar quentinho", incapaz de perceber que esse lugar é e sempre foi ela mesma.
A série expõe, ainda, preconceitos e dramas relacionados às diferenças sociais e de classe - em especial na passagem de Alex com uma de suas patroas. As cenas trazem à tona a dificuldade de moradia e mostram como um lar disfuncional dificulta o desenvolvimento e os estudos. Por outro lado, também mostra a resiliência e bondade de uma rede de apoio, tão necessária para o ser humano.
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Silvia Malamud
Nosso passado linear é o modo como contamos a nossa história para nós mesmos. O ser humano até hoje não aprendeu a lidar com o seu desamparo existencial. Cria subterfúgios imaginários e coletivos, buscando uma segurança em relação ao existir, para driblar questões em que deveria ter um olhar especial. Iluminar o nosso agora sagrado buscando conhecimento e qualidade é a máxima do que temos a fazer.
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No início de um novo relacionamento, observe o que sente e se existe algum tipo de ruído emocional. Nossos sistemas de sobrevivência sempre nos avisam, funcionando como verdadeiros anjos da guarda. Atente que, muitas vezes, a bondade excessiva também pode servir como ferramenta tóxica de encantamento, o famoso canto da sereia... Por alguns instantes, distancie-se e tente ver a situação como se fosse uma terceira pessoa, de fora. Essa prática pode ser de grande valia. Se mesmo assim ainda ficar difícil a definição do que fazer, não hesite e busque ajuda. A sua vida é o seu bem maior.
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As vítimas ocupam o lugar mais primitivo possível que pode existir nas relações, que é o da simbiose da relação de dependência absoluta que acontece com a mãe e com o bebe recém-nascido, lugar onde todo o tipo de alimento possível para a sobrevivência vem desta mãe.
Abusadores tem a maestria de colocar as suas presas, desde o início, neste ponto emocional. A sedução sem limites provoca na vítima uma sensação de completude de tudo - desejos, carências e sonhos que se redimensionam em novas possibilidades de serem satisfeitos em sua plenitude. Pouco a pouco, a vida vai se delineando numa falsa segurança, porque a vítima passa a depender deste outro para existir. O abusador vai subtraindo a vítima de suas relações de adulto com o mundo e que trazem referências de como ela já caminhou e já se conquistou antes e independente dele existir. Num determinado momento do sequestro, tudo isso aparenta não ter validade para mais nada, como se não tivesse peso algum.
Esses predadores emocionais costumeiramente fazem o papel de cuidadores e, como a mãe deveria ter feito, dão remédios e cuidam. Quanto mais frágeis e doentes, mais dependentes as vítimas ficam, como bebês carentes.
Se acaso perceber que a sua identidade e as suas referências estão se perdendo dentro de uma relação afetiva, reavalie se o que está acontecendo de fato é amor. Se existe algum ruído emocional, é porque algo não vai bem.
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A maturidade começa quando os dramas terminam. Quando conseguimos nos descolar das nossas telas de ilusão e despertar de sonambulismos crônicos. O que passou, passou. O novo só tem espaço para acontecer quando você de verdade se liberta do passado e das situações que lhe foram abusivas. É a partir deste estágio que você poderá seguir em frente sem olhar para trás, com autoconsciência e lucidez. A vida amorosamente te espera para lhe oferecer o melhor. Ouse e conquiste! Você pode, você merece!
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Mães narcisistas se autointitulam boas e amorosas, mas suas reais atitudes revelam que são bem diferentes do que pregam. Costumam fazer de tudo para que você tenha saúde física, mas, por outro lado, darão pouco ou quase nada de informação sobre como a vida funciona, te deixando sem orientação, ingênua e insegura para lidar com questões práticas do dia a dia e das relações em geral. Querem a sua dependência eterna para que elas continuem dominando e tendo influência sobre você e suas escolhas. Ela deseja ser - por toda a vida - a única detentora da suprema sabedoria e das experiências, incluindo as suas. Para isso, joga pesado inserindo culpas e manipulando situações, dizendo a todos como você é incompetente e ela necessária.
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Sempre comento com meus pacientes que anos após o resgate de si mesmos é que irão se dar conta da real dimensão do que passaram enquanto estiveram sequestrados por tais predadores emocionais.
Os resgatados precisam tomar cuidado redobrado para não ficarem ativados em situações que absolutamente nada têm a ver com os fatos ocorridos anteriormente. Inúmeras vezes situações corriqueiras ainda poderão acionar nessas pessoas aceleração cardíaca, angústia, tremores, sensações de queimação na área do peito, barriga, estômago, entre outras. Tudo isso porque os sistemas físicos e a alma ainda não se recuperaram plenamente dos traumas que esse tipo de relação devastadora promove.
Aqui estão alguns breves relatos autorizados de lembranças traumatizadas que pacientes pós-resgate tiveram durante as sessões de reprocessamento em EMDR e Brainspotting - lembrando que essas terapias têm a capacidade de espontaneamente colocar o paciente em várias situações que foram danosas a fim de serem redimensionadas.
Com este tipo de ajuda terapêutica, a inteligência de sobrevivência vai tecendo uma espécie de colcha de retalhos sobre todo o ocorrido, extravasando, ao mesmo tempo em que reescreve as emoções e pensamentos disfuncionais que ficaram nas situações traumáticas. Modifica a compreensão de memórias danosas, fortalecendo e resgatando recursos pessoais até que se chegue na cura emocional.
Cenas que vieram durante o reprocessamento:
"Ele sabia como me desestabilizar. Eu tinha uma urgência muito grande para resolver algo que ele dizia que não era bom no momento, o que ativava meu grande mal-estar. A partir daí, a conversa não fluía mais e eu falava sempre sozinha; eu chorava muito e ele nunca falava nada. Se eu quisesse ir embora dava na mesma. Não fazia questão de sequer me acalmar. Quanto mais ele me deixasse desestabilizada, mais ele gostava. O único jeito era ficar ao lado dele..."
"Quando eu queria ir embora, ele vinha tão bonzinho e carinhoso que eu ficava confusa achando que eu poderia ter sido muito severa. Frequentemente, ele falava e me acusava de coisas que eu não havia feito. No começo me despertou coisas tão boas e depois virou do avesso. Sua presença, preocupação... marcava as minhas consultas para eu ir ao médico. Eu me sentia cuidada quando me dava remédios, mesmo quando ele era tão ruim comigo. Lembranças de momentos difíceis com ele, sensação de impotência e de desespero, desconforto no peito eram constantes. Hoje vejo que ele fazia coisas, às vezes pelo telefone, que eram apenas para me despertar desespero. Por qualquer motivo inesperado, ele mudava drasticamente de humor e dizia: agora não quero mais conversar e não dava mais respostas e isso me deixava ansiosa. Eu tentava ficar quieta esperando passar, pedindo-me para não ir na casa dele e, enquanto falava isso, eu ia colocando roupas numa sacolinha e ia lá... e eu chegava na casa dele e ele com a cara muito feia me dizia: "você veio aqui para conversar? Você é a santa, né? Você não faz nada... " E falava que se eu o obedecesse, eu seria mais feliz. No começo, quando eu ainda tinha forças, dizia que ele era insaciável, que queria alguma coisa que não existe. Com o tempo, fui me calando, adoecendo mais e mais... Não sei como fui cair nisso..."
"Descobri que sempre quis superar expectativas. Quando a pessoa muda estando comigo, o primeiro ímpeto é fugir e o segundo é mudar de atitude, ser mais agradável... e quando funciona tento me adaptar cada vez mais, mas fico magoada. Falo dessa mágoa, mas quando falo é incômodo, eu me adapto e minto para mim mesma. Lembro agora que fazia isso em casa, com a minha mãe... Eram tentativas de não sentir aquilo que estava sentindo, ou porque achava que estava exagerando, ou por medo da pessoa escapar, ir embora e não me amar, faço de conta que a pessoa não está fazendo isso comigo. Quando se trata de alguém muito próximo, eu me vejo escrava. Adapto-me ou abro mão?"
No caso das vítimas, é importantíssimo um processo terapêutico para a total recuperação da vida, como se a pessoa voltasse de uma guerra apenas com o próprio corpo. Quem passou ou está passando por semelhante situação sabe o que isso significa e como todo o tipo de ajuda se faz necessária. Ocorre que todos nós crescemos, mas a nossa máquina cerebral ainda pode estar enviando informações antigas sobre nós mesmos, fazendo-nos agir do modo que não desejamos. Todas as áreas da existência ficam comprometidas quando você não se atualiza. Quando você atravessa a moldura de algum impacto emocional, que usualmente costuma lhe cercar, reprocessa o tempo que deu início a todo este cabedal mudando toda a configuração deste cenário. Pensamentos, sentimentos e crenças, antes mal focadas, conseguem definitivamente realizar o seu fluxo contínuo como se fosse um rio límpido correndo livre, sem desvios ou quaisquer outros 'impedidores'.
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Silvia Malamud
Você é forte. Lembre-se de que você está eternamente na alvorada da vida e que cada dia é como um novo recomeço. Seus momentos devem ser únicos e prazerosos. Sua ação no mundo te oferece infinitas possibilidades de ser criador e protagonista de sua própria história.
Evite ser condescendente consigo abrindo espaço para queixas e lamentações. Se em algum momento estiver em desespero, recolha-se ao seu mundo interior e de lá tire os frutos da sapiência que você acumula ao longo de muitas e muitas jornadas. Nada tema, posto que para tudo há solução.
Ao longo de sua vida certamente muitas pessoas podem ter sido marcantes na construção do seu modo de ser, influenciando o modo como você pensa e age. Mas já é hora de retirar o véu de seus olhos e definitivamente enxergar e ser por si mesmo. Fique com o bom e liberte-se do que não te serve mais. É nessa trajetória que saímos definitivamente da zona de conforto, deixando para trás comodismos, ilusões e fantasias, caminhando para uma percepção única onde definitivamente o que importa é a sensação inequívoca de ser feliz, sem dependência emocional e sem subterfúgios. É hora de ousar colocar toda a sua vitalidade de modo consciente e incorruptível em suas ações, pensamentos e emoções.
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Mudanças de vida muitas vezes são de difícil assimilação. A personalidade repentinamente se vê empurrada para viver o impensável. A emergência e a rapidez dessas dinâmicas ativam o acesso imediato à fonte dos nossos recursos de sobrevivência. Adaptar-se ao novo exige tempo para processar. Por outro lado, abrem-se oportunidades para se por em ação habilidades nunca antes despertadas. A nossa existência é impermanente e o nosso modo de funcionar não precisa ser concebido como uma estrutura rígida ou como algo inviolável. Sempre podemos nos reinventar. Ouse e conquiste-se!
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